quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O pequeno príncipe...

"- Há milhões e milhões de anos que as flores fabricam espinhos. Há milhões e milhões de anos que os carneiros as comem, apesar de tudo. E não será sério procurar compreender por que perdem tanto tempo fabricando espinhos inúteis? Não terá importância a guerra dos carneiros e das flores? Não será mais importante que as contas do tal sujeito? E se eu, por minha vez, conheço uma flor única no mundo, que só existe no meu planeta, e que um belo dia um carneirinho pode liquidar num só golpe, sem avaliar o que faz, - isto não tem importância?!
Corou um pouco, e continuou em seguida:
- Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla. Ele pensa: "Minha flor está lá, nalgum lugar. . . " Mas se o carneiro come a flor, é para ele, bruscamente, como se todas as estrelas se apagassem! E isto não tem importância!
Não pôde dizer mais nada. Pôs-se bruscamente a soluçar. A noite caíra. Larguei as ferramentas. Ria-me do martelo, do parafuso, da sede e da morte. Havia numa estrela, num planeta, o meu, a Terra, um principezinho a consolar! Tomei-o nos braços. Embalei-o. E lhe dizia: "A flor que tu amas não está em perigo... Vou desenhar uma pequena mordaça para o carneiro... Uma armadura para a flor... Eu..." Eu não sabia o que dizer. Sentia-me desajeitado. Não sabia como atingi-lo, onde encontrá-lo...
É tão misterioso, o país das lágrimas!"

Não me canso de ler e reler este livro, e olhá-lo sempre com uma perspectiva diferente.
Essa parte do livro, com certeza me marcou muito. Acho que vivi isso, é como se estivessem narrando coisas que só eu sinto e penso.
Pus-me a refletir sobre alguns fragmentos e compartilhar algumas observações, com meus humildes leitores [?] rs o.o
Nós criamos espinhos o tempo todo. Já perceberam? Criamos, obstáculos, desculpas, motivos para nos proteger de qualquer possível dor. O que se torna inútil, porque, se quisermos, abriremos mão de tudo em virtude de algo que acreditamos. E então, nos tornaremos vulneráveis, de qualquer forma. Mas ao renunciarmos a estes espinhos, podemos, também, viver tantas coisas, sentimentos bonitos.
Gosto de pensar na relação do principezinho com sua flor. Em um momento de confusão, ao se sentir enganado por sua flor, decide, sem analisar, partir:
"E, quando regou pela última vez a flor, e se dispunha a colocá-la sob a redoma,
percebeu que estava com vontade de chorar.
- Adeus, disse ele à flor.
Mas a flor não respondeu.
- Adeus, repetiu ele.
Revolveu cuidadosamente seus dois vulcões
A flor tossiu. Mas não era por causa do resfriado.
- Eu fui uma tola, disse por fim. Peço-te perdão.
Trata de ser feliz.
A ausência de censuras o surpreendeu. Ficou parado, inteiramente sem jeito, com a
redoma no ar. Não podia compreender essa calma doçura.
- É claro que eu te amo, disse-lhe a flor. Foi por minha culpa que não soubeste de
nada. Isso não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Trata de ser feliz...
Mas pode deixar em paz a redoma. Não preciso mais dela.
- Mas o vento ...
Não estou assim tão resfriada... O ar fresco da noite me fará bem. Eu sou uma flor.
- Mas os bichos...
- É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.
Dizem que são tão belas!
Do contrário, quem virá visitar-me? Tu estarás longe ...
Quanto aos bichos grandes, não tenho medo deles. Eu tenho as minhas garras.
E ela mostrava ingenuamente seus quatro espinhos.
Em seguida acrescentou:
- Não demores assim, que é exasperante. Tu decidiste partir. Vai-te embora!
Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa ..."
Deu pra notar que ele queria desistir de sua aventura? Que ele quria ficar?
Mesmo com sua coragem de partir, ele não deixa de pensar e se preocupar com sua flor. E, por mais que ele esteja conhecendo tantos planetas, tantas pessoas, aprendendo tanto, ele pensa em retornar ao seu pequeno asteróide, e cuidar de sua flor.
É tão real esse sentimento. É tão puro. É lindo! É muito amor, sabe?
"Mas que quer dizer "efêmera" repetiu o principezinho, que nunca, na sua vida, renunciara a uma pergunta que tivesse feito.
- Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".
- Minha flor esta ameaçada de próxima desaparição?
- Sem dúvida.
Minha flor é efêmera, disse o principezinho, e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo ! E eu a deixei sozinha! Foi seu primeiro movimento de remorso."
Vocês conseguem ver? Eu vejo nitidamente! Ele se foi, e começa a se arrepender, pq contudo, todos os poréns, e toda sua vontade de explorar novos caminhos, horizontes, e, mesmo depois de ver e conhecer tantos mundos, sua flor ainda é a mais linda que ele já vira em toda sua vida!
E então:
"- Bom dia, disse ele
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia, disseram as rosas.
O principezinho contemplou-as. Eram todas iguais a sua flor.
- Quem sois? perguntou ele estupefato.
- Somos rosas, disseram as rosas.
- Ah! exclamou o principezinho. .
E ele sentiu-se extremamente infeliz. Sua flor lhe havia contado que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, igualzinhas, num só jardim ! (...) E, deitado na relva, ele chorou."
Acho que foi a primeira decepção do principezinho. Acho que ele não havia entendido muito bem nada do acontecera. Assim como eu, como tu. Nós confundimos, achamos que por sermos parecidos, somos iguais. Oh, eu quase deixei minha flor, pensando que encontraria outra igual.Enfiim... Deixe-me continuar com a "fantasia" [?]...
"Que quer dizer 'cativar'?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa 'criar laços.'
- Criar laços?
Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto
inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não
tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil
outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para
mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
Começo a compreender, disse o principezinho.
Existe uma flor. . . eu creio que ela me cativou ...
É possível, disse a raposa.
Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um
barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar
debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música.
Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe
de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A
linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto ...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo,
às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for
chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada:
descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a
hora de preparar o coração ... (...)"
Quando criamos laços, nos tornamos indispensáveis para alguém. Alguém depende disso para ser feliz [?]. Muitas vezes não sabemos lidar com isso, e nos apavoramos. Podemos dizer coisas, que não condizem com o que pensamos, pq as vezes não queremos admitir que nós também criamos laços com alguém, também fomos cativados.
E então, vem mais uma lição da raposa.
"- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás
para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda.
Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era
uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo.
Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa,
sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é,
porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a
redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto
duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou
mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o
coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável
pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar."
Creio que seja a passagem mais conhecida de "O pequeno príncipe", no entanto, sempre reflito sobre este pensamento.
Acho que entendem agora, o que eu quero dizer, ou não? Quando eu disse que era amor... Amor é pra sempre. As vezes me pergunto se sou única para alguém. rs... Vou confessar a vocês, mas por favor, não contem a ninguém, fica sendo nosso segredo: Existe uma flor, no meu pequeno planeta, que me cativou, e ela é única pra mim.
"E, após um silêncio, disse ainda:
- As estrelas são belas por causa de uma flor que não se vê... (...)
- O deserto, belo, acrescentou ... (...) O que torna belo o deserto, disse o principezinho, é que ele esconde um poço
nalgum lugar.
(...) Como seus lábios entreabertos esboçassem um sorriso, pensei ainda: 'O que tanto
me comove nesse príncipe adormecido é sua fidelidade a uma flor; é a imagem de uma
rosa que brilha nele como a chama de uma lâmpada, mesmo quando dorme...' Eu o
pressentia então mais frágil ainda.
É preciso proteger as lâmpadas com cuidado: um sopro as pode apagar...
E, caminhando assim, eu descobri o poço. O dia estava raiando."
Quando amamos, de verdade, somos fiéis ao que sentimos. Creio que isso é amar pra sempre. É estar longe, e ainda sim, ser capaz de se lembrar, de amar, de ser leal ao nossos sentimentos.
"- É preciso, disse baixinho o príncipe, que cumpras a tua promessa. Ele estava, de
novo, sentado junto de mim.
- Que promessa?
- Tu sabes ... a mordaça do meu carneiro ... eu sou responsável pela flor!
(...) Rabisquei, portanto, uma pequena mordaça. Mas sentia, ao entregá-la, um aperto
no coração:
Tu tens projetos que eu ignoro...
Ele não me respondeu.
(...) - Ah ! disse-lhe eu, eu tenho medo ...
Mas ele respondeu:
- Tu deves agora trabalhar. Ir em busca do teu aparelho. Espero-te aqui. Volta
amanhã de tarde. . .
Mas eu não estava tranqüilo. Lembrava-me da raposa.
A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar."
rs VOCÊ ACHA?? Chorar ainda é a forma mais pura de expressão, na minha opinião. As vezes faço isso, quando ninguém pode ver.
É interessante pensar, que sempre, por qualquer motivos, sempre há um "cativar" dentro do nosso choro. É sempre porque nos envolvemos tanto com algo. É sempre inevitável, e mesmo assim, sempre vale a pena. 

"- O que é importante, a gente não vê ...
- A gente não vê ...
- Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite,
olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.
- Todas as estrelas estão floridas.
(...) Ele riu outra vez.
- Ah! meu pedacinho de gente, meu amor,como eu gosto de ouvir esse riso!
- Pois é ele o meu presente ... será como a água...
- Que queres dizer?
- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas.
Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de
pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro.
Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém...
- Que queres dizer?
- Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas
estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem ! E tu terás estrelas que sabem
rir!"
Eu sempre olho as estrelas. Há algo de irresistível nelas. Brilham sozinhas, a todo tempo, faça chuva, faça sol. Sempre brilham. Ainda que não possamos ver. Sempre brilham.
"(...) todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde,
um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa ...
Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como
tudo fica diferente ...
E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância!"
O principezinho, precisava voltar para a sua rosa. E voltou. E eu aposto que cuida muito bem dela. Aposto que nenhum carneiro a fez mal. Porque isso, é o amor por sua rosa, sua única rosa, a coisa mais importante de sua vida.
Essa foi minha, não tão pequena, interpretação, sobre o livro. Que tanto me ensinou, e sempre vai. Porque é puro, e descreve um singelo paraíso, o coração.
Qualquer semelhança com a minha realidade, é mera coinscidência. hehe


*trechos de "O Pequeno Príncipe - Antoine De Saint-Exupéry

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